domingo, 13 de dezembro de 2015

Terraço Urbano - O Passeio dos alegres

O ser humano é, por natureza, um ser sociável. O espaço de excelência onde o ser humano projecta esta característica é a cidade, em particular no espaço público e no micro-território da rua. É nele que expressa a sua cultura e é nele que actua enquanto ser político. No entanto, as ruas construídas nas últimas décadas tiveram como objectivo único responder à demanda do tráfego motorizado, relegando os restantes modos de transporte para segundo plano, assim como a função social do espaço público, que ficou limitado a passeios cada vez mais exíguos, desconfortáveis e repulsivos para quem neles circula. Além deste design impessoal dos arruamentos, a especulação imobiliária transformou os grandes espaços públicos, como as praças, alamedas e parques, numa raridade da cidade contemporânea.

A presente proposta de criação de um Parklet é um antídoto a este tipo de cidade, procurando criar arruamentos e um novo espaço público mais seguro e confortável, através de um maior equilíbrio entre os utentes da rua, conciliando as necessidades dos utilizadores dos diferentes modos de transporte.


Este conceito enquadra-se na corrente do Novo Urbanismo, que promove a pedonalização das cidades, de forma a conectar as pessoas com o ambiente urbano através dos seus percursos quotidianos. Caminhar possibilita um diálogo com a cidade, o exercício da cidadania e uma identificação do ser com o lugar.


O Parklet é uma iniciativa de pequena escala e curto prazo, com objectivo de produzir mudanças a larga escala e longo prazo, de forma a redefinir o papel da rua nas vivências urbanas. Procura constituir-se como um pequeno espaço público de proximidade, realocando parte do espaço da rua através da conversão de lugares de estacionamento em espaços de convívio, de lazer e de encontro entre vizinhos e visitantes, democratizando assim o espaço público anteriormente privatizado pelo automóvel. Os parklets não se apropriam do espaço dos automóveis; na verdade, o automóvel é que se apropria de espaço público que pertence às pessoas.


Estes espaços proporcionam funções essenciais à vida urbana que têm caído em desuso, como o simples acto de estar na rua, aquilo a que se chamou de “praticar” o espaço. Procuram também encorajar outros estilos de vida compatíveis com a cidade do futuro (actual?), segundo os pressupostos das orientações estratégicas europeias, entre as quais a Carta de Leipzig ou a Estratégia 2020, promover o comércio local e dinamizar as relações de vizinhança, ou seja, tornar a cidade mais humana.


A proposta consiste em quatro Parklets itinerantes, com um custo estimado de 40 mil euros, devendo ser (re)colocados segundo uma estratégia de Urbanismo Táctico - encoraja e convida a comunidade a moldar e a participar na vida da rua, activa consciências e serve de ferramenta (política e social) de mediação e experimentação. Esta abordagem permite testar investimentos significativos e tecnicamente complexos através de intervenções ligeiras, rápidas, baratas e temporárias, incitando os habitantes a reagir a propostas que muitas vezes não entendem. A reacção, apropriação ou desconsideração por determinada mudança no espaço público pode então ser analisada pelos técnicos municipais, de forma a adaptar os projectos futuros de carácter permanente.


Estes novos espaços pretendem promover a inclusão social de todos os grupos sócio-económicos e de todos os cidadãos com mobilidade reduzida, através de um design inteligente, flexível e inclusivo. Possuem também uma série de funcionalidades que propiciam a permanência e utilização por parte de todos, como um estacionamento para bicicletas, Phone Charger ou Hotspot, mobiliário que permite a ligação de um computador portátil, a realização de refeições rápidas, a leitura de um livro… Com a possibilidade deste tipo de vivências, o Parklet permite a transformação do espaço em um lugar.

 photo parklet_1.jpg

De construção modular, constituída por blocos standard de ligação fixa entre si, a estrutura está dimensionada para ocupar o espaço de dois estacionamentos longitudinais, ou seja, 10 metros de comprimento por dois de largura, implantada à cota do passeio para que seja acessível a todos.


O espaço inclui uma zona de parqueamento de bicicletas, também como forma de incentivo à utilização deste tipo de veículo, e outra de descanso com bancos e mesas – que poderá servir de esplanada quando utilizado junto a estabelecimentos de restauração e bebidas – complementadas com uma estrutura de sombreamento que permite o refúgio em dias de calor, mas não demasiado hermética para que permita a transposição dos raios solares em dias encobertos.

Sendo um projecto que pretende promover o uso, frequência e permanência no espaço público, o local será dotado de iluminação própria e de tomadas eléctricas que permitam a ligação de computadores e telemóveis através de energia produzida por um painel solar, também ele previsto. Fica, desde logo, prevista a possibilidade de ligação de um ponto de internet (hotspot).

Por forma a tornar todo o enquadramento mais apelativo e agradável, aumentando a segurança, toda a superfície será adornada com plantas e elementos ajardinados permitindo não só a vedação do local como o seu embelezamento.

A preocupação com alguma facilidade na desmontagem, para a mudança de local não ser um constrangimento, já que o que se pretende é induzir comportamentos através da recolocação em vários locais que necessitem de alteração de usos, leva a alguma adaptabilidade, não só no desenho, mas também na escolha de materiais, muito assente na madeira e nos metais.

Toda a estrutura terá um custo a rondar os 10 000 euros, a que acrescerá apenas o custo de montagem, desmontagem e transporte.

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